domingo, 9 de dezembro de 2007

Epístrofes aos montes!

Nessa madrugada, duas coisas:

1) Um poema do Drummond, que eu gosto muito (de tão lindo, chega a doer)... para ajudar a sossegar a cuca... (em seguida);

2) Um vasto "não saber" se posso/consigo/devo ou se adianta ser mais direta do que tenho sido!!!

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Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Amar - Carlos Drummond de Andrade.

Um comentário:

Anônimo disse...

lá vem ela e os seus enigmas...