terça-feira, 30 de outubro de 2007

domingo, 28 de outubro de 2007

VONTADE DE POESIA!

Dorme, criança, dorme,
Dorme que eu velarei;
A vida é vaga e informe,
O que não há é rei.
Dorme, criança, dorme,
Que também dormirei. Bem sei que há grandes sombras
Sobre áleas de esquecer,
Que há passos sobre alfombras
De quem não quer viver;
Mas deixa tudo às sombras,
Vive de não querer.

Fernando Pessoa.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

AMNÉSIA : MODE [ON].


Sabe esses desejos de capacidades surreais, quase como super-poderes?
Acho que todo mundo já teve um desejo assim... por exemplo: "putz, se eu pudesse voltar no tempo" ou "poxa, se eu fosse invisível"... ou ainda, "ah se eu pudesse ler pensamentos"....
Voltar no tempo, ser invisível, ler pensamentos... sempre foram os meus super-poderes mais evocados, mas certa vez eu tive um desejo súbito por outro diferente, que volta e meia me retorna à mente.. o desejo de amnésia voluntária!
Sim, já pensou? Amnésia voluntária seria um super-poder e tanto.... pouparia muitas sessões de terapia por traumas ou coisas mal resolvidas.... (santa utopia)!
Não está conseguindo conviver com algo que já passou e não tem mais jeito de mexer? Aperta o botão da amnésia voluntária e pronto, apaga-se os detalhes do caminho, que é o que geralmente fazem a coisa ser tão difícil de suportar e fica-se só com o resultado... não vai lembrar como chegou naquilo mesmo....

Eu não conseguiria citar nem cinco coisas das quais me arrependo na vida, mas no entanto, sei que no meio de tantas passagens, com finais felizes ou sem sucesso, tem um bom bocado de detalhes, cenas e palavras rudes que me foram ditas, que eu gostaria de simplesmente esquecer.
É incrível como detalhes podem minar uma história inteira!!!!


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"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo."


"Eles", O ovo apunhalado - Caio Fernando Abreu

Foto de: Vincent Teulière

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

É...



- Porra! - gritou.
Amaranta, que começava a colocar a roupa no báu, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
- Onde está? - perguntou alarmada.
- O quê?
- O animal! - esclareceu Amaranta.
Ursula pôs o dedo no coração.
- Aqui - disse.

Gabriel Garcia Márquez, in Cem Anos De Solidão e pintura surrealista de Salvador Dali - O Grande Masturbador.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

UM MAR DE FOGUEIRINHAS!


Em face de uma certa e agoniante estagnação, presa e dependente a fatos e acontecimentos temporais do que se pode chamar de "seqüência natural da vida"... a graça, a iluminação e a salvação dos dias nascem, sobretudo, da existência do bendito mar de fogueirinhas que eu tive e continuo tendo a felicidade de cruzar no caminho.
A vida surpreendentemente compensa, nunca houve tamanha variedade de fogueiras.... fogueiras amigas, coloridas, interessantes, algumas próximas, outras distantes... fogueiras afrodisíacas, inteligentes, divertidas, excêntricas, filosóficas, artísticas... tem de todos os jeitos e tamanhos e para todos os gostos e principalmente e felizmente para o meu...


O Mundo...

Um homem conseguiu subir ao céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - relevou. - Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto, pega fogo.


Eduardo Galeano - O Livro dos Abraços.


sábado, 13 de outubro de 2007

ALÍVIO PARASITA?

Estranho bálsamo este da aflição alheia.
Não sei se é comum a todos, mas para mim funciona involuntariamente com uma eficácia assustadora....
O motivo? Gostaria de saber.
Ruim? Não... nenhum conforto é ruim. Mas não é das melhores coisas, obtê-lo pelo preço alto do sofrimento alheio.
Não há culpa, pois não há prévia responsabilidade, mas não se torna menos caro, nem se parece menos cruel.
É tão nítido que por vezes eu me pego buscando saber dos problemas do mundo, simplesmente para me sentir melhor em relação aos meus.
Uma resposta, sim eu gostaria de entender....
Por que diabos os meus conflitos parecem diminuir e minhas angústias quase desaparecem, quando estou diante dos problemas de outras pessoas, ainda que eu nem as conheça?
Humanidade, solidariedade, piedade ou hipocrisia?!

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"E hoje não. Que não me doa hoje o existir dos outros, que não me doa hoje pensar nessa coisa puída de todos os dias, que não me comovam os olhos alheios e a infinita pobreza dos gestos com que cada um tenta salvar o outro deste barco furado. Que eu mergulhe no roxo deste vazio de amor de hoje e sempre e suporte o sol das cinco horas posteriores, e posteriores, e posteriores ainda."


Para Um Roxo Dia de Sol de Fevereiro - Caio Fernando Abreu.