Causava-lhe estranheza e até certo desprezo, quando percebia nos outros uma carência “naquilo”... Aquilo que não existindo, era para ela como não ter uma orelha ou uma perna... que em seu entendimento se tinha naturalmente, era como peça original de fábrica. Para ela não era motivo de preocupação, nem de dispêndio de energia ou esforço. Exauria-lhe, ao contrário, ficar ouvindo as queixas alheias sobre esta baixa e os queixosos por vezes não acreditavam nela ou tomavam-na como arrogante, quando afirmava nunca ter sentido tal ausência. Afirmava nunca ter...
E passou tanto tempo sem precisar lidar com a não existência do “buraco”, que quando aconteceu do buraco se abrir, ela foi engolida por ele... era para ela, terreno há muito (todo) tempo desconhecido.
O curioso é que o que iniciou a abertura do buraco foi estar diante da materialização personificada de um conjunto enorme de características humanas, que até então ela julgara como ideais ou próximos do que com muito descuido se chama de perfeição.
A utopia em forma de gente, germinou nela a inédita dúvida sobre todas as certezas que sempre tivera sobre si mesma. A criatura, a perfeição inventada, talvez fosse nada mais que a projeção dela mesma ou do que apreciaria ter como seu... e vendo existir, fora de si, de carne e osso, ficou escancarado que o que ela julgara ideal durante tanto tempo, era muito diferente do que verdadeiramente via no espelho todos os dias... Foi assim que se deu o (des)encontro.
.
"Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….” - Friedrich Nietzsche
Pintura: Edgar Hilaire Germain de Gas / Edgar Degas - Before de Mirror 1885 - 86.
2 comentários:
Estou enganado ou vc está falando da auto estima?
Apesar do pouco contato, não parece mesmo que vc tenha problemas com isso é sempre tão segura de si, passa uma impressão de ser super bem resolvida!
Bjokas.
olha, sim e não.
sim para o normal... mas não pois atualmente nesse aspecto, nem tudo é o que parece.
beijos, querido.
Postar um comentário