terça-feira, 8 de julho de 2008

...



Quando a criança era criança
andava balançando os braços
e não sabia que era criança
queria que o riacho fosse rio
que o rio fosse torrente, e poça d’agua, mar
e tudo era cheio de vida
e a vida era uma só.

Quando a criança deixou de ser criança
o mar já se transforma em rio
e o rio em poças e as poças em gotas d’agua
e as gotas d’agua no vento seco do deserto
e desapareceram as asas e houve o regresso
ao único átomo e suas derradeiras partículas
e a criancinha loura então aprendeu a dançar.

E quando a criança não era mais criança
ficou imóvel com os braços e o sorriso
e não acreditou mais que o riacho era rio
e o rio torrente e a torrente era o mar
e viu que nem tudo era cheio de vida - e também
que já tinha hábitos e opiniões e sabia dançar
e a vida, enfrentando-a, não era uma só

e já não havia mais nem asas nem a magia do tempo.

Álvaro Pacheco, in Asas de Criança.

.

Arte de Kelly Vivanco.



Um comentário:

Mariana P. disse...

que lindo, minha flor...
que lindo!
tô com saudades de ti!!!!
beeeeeeeeeeeeeeeijos